No Sunlight #Fanfic
Categoria: Bla-bla-blá | Tags: Fanfic, Harry Potter
       A ideia havia surgido quando um dos calouros passará a perseguir James pela escola em todos os dias que havia treino de Quadribol, querendo saber como tudo funcionava. James não podia ficar explicando cada passo enquanto treinava, pois – agora como capitão do time, precisava focar em passar estratégias em campo. 
       Então, depois de conversar com Madame Hooch sobre, decidiram que algumas aulas de voo dos alunos da Grifinória teriam presença do time de quadribol da casa.
       No início, os professores ficaram relutantes com a ideia de os alunos do time perderem outras aulas para participarem das aulas dos calouros, mas James ganhou McGonagall quando sugeriu fazerem um time mirim, cada jogador sendo tutor de dois primeiranistas, assim formando um time. Era uma brincadeira, é claro, mas que ajudaria no espírito esportivo dos novatos. 
       O primeiro “treino” estava sendo um tanto tumultuado e James estava quase arrependido de ter tido aquela ideia. Os primeiranistas praticamente brigavam pelos jogadores e posições. No fim, tiveram que colocar o nome de todos em um grande saco e sorteá-los. 
       James acabou ficando com Susie Bell, uma menina alta com cabelos castanhos escorridos que batiam quase nos cotovelos dela, dando a impressão de que pesavam mais do que ela mesma. Parecia ágil, mas um tanto distraída. Também tirou Patrick Sloper, de longe o mais nervoso por ter ficado com o “grande artilheiro, James Potter”, segundos palavras dele. Tinha um tique nervoso de ficar batendo o pé enquanto James tentava explicar o básico sobre o jogo, pois queria interrompe-lo para dizer que já tinha lido tudo sobre em Quadribol através dos séculos.
       – Eu sei que você já leu isso, Sloper. Mas na prática é um pouco diferente, então vamos focar, ok? – cortou James, depois da quarta vez que o aluno interrompia uma demonstração com a goles. 
       O burburinho deixava claro que os calouros estavam ansiosos para voar, mas era importante fazerem um jogo em solo para que eles entendessem, afinal poucos ali conseguiriam voar e jogar ao mesmo tempo sem ter experiência em voo. 
       O jogo havia sido OK, o time “A” ganhando por 160 pontos. Madame Houch enfeitiçou o pomo para que o mesmo não voasse mais do que um metro e meio, então não demorou quase nada para que Pauline Starkey, uma aluna miudinha e risonha, pegasse o pomo, ficando toda vermelha ao perceber que o havia feito. 
       – Consegui! Peguei! – pulava. James riu e cutucou-a, gostando de ver quão felizes eles ficaram com aquele pequeno jogo. Estava na hora das vassouras. 
       – Bom, acho que vocês já entenderam, não é? – conseguiu falar assim que todos se acalmaram. – A professora Houch já deixou as vassouras em posição para que vocês possam aprender o básico sobre voar, espero que na próxima aula possamos jogar no ar. 
       Novamente um burburinho de alegria enquanto todos corriam para conseguir uma vassoura.
       A pequena Starkey ficará tão empolgada com o pomo que acabou sendo a última a escolher a vassoura, então acabou ficando sem. Encheu os olhos de lágrimas e encarou a professora, sem entender. Madame Houch apressou-se a pedir para James buscar alguma vassoura para ela. Ele deu um piscadinha para a menina, que sorriu envergonhada e saiu quase em disparada para o castelo. 
       Depois de procurar em dois armários de vassouras, acabou subindo três andares, tendo certeza que encontraria alguma coisa ali, pois poucos alunos subiriam tanto por uma vassoura. Mas James tinha alguns segredinhos.
       Sem fôlego, empurrou a porta, apertando os olhos ao perceber que não estava sozinho ali. 
       – Evans, é você? O que foi? – James sussurrou, quase encolhendo-se ao som dos soluços dela. 
       Lily estava sentada em um dos baldes distantes da porta. O acústico do armário de vassouras fazia seu choro parecer mais alto do que realmente era. 
       – Me… me deixe em paz. Por favor. – resmungou ela entre um soluço, as mãos trêmulas tapavam o rosto enquanto ela se encolhia ainda mais, como se assim pudesse camuflar-se a parede. 
       James mordeu o lábio, indeciso. Claro que ele não havia entrado ali de propósito, como ela provavelmente pensaria. Estava apenas procurando uma vassoura boa. Só isso. Sabia que deveria ter simplesmente saído, antes que ela desse por conta que ELE estava ali, sem contar que Lily parecia querer ficar sozinha, indo tão longe para esconder-se. Mas alguma coisa na forma como seus ombros pequenos subiam e desciam entre os soluços o fez ter a necessidade de abraçá-la. E foi por isso que ele entrou no armário e fechou a porta, já esperando pelo jorro de xingamentos. 
       – Vá embora! Estou pedindo, vá. – ela grunhiu de um jeito quase inaudível por causa do choro. 
       – Ei, calma. Quero ajudá-la. – James sussurrou em resposta, puxando um dos baldes e virando de cabeça para baixo para que pudesse sentar ao lado dela. 
       Aquilo pareceu a gota d’água para a garota, que limpou as lágrimas na manga do uniforme e empinou o queixo, o fuzilando com o olhar. 
       – Saia já daqui, Potter! – disse entredentes. – Não pode me deixar em paz nunca? Não quero você aqui, não percebe? Suma. – completou de um jeito quase histérico. Então, caiu no choro novamente, parecendo extremamente desolada. 
       Por instinto, James passou um dos braços no ombro dela, na tentativa desesperada de confortá-la. Não sabia ao certo o que fazer, mas não conseguiria conviver consigo mesmo se a deixasse naquele estado. Sozinha. Esperou pelo pior, ser empurrado, azarado, qualquer coisa, mas para sua enorme surpresa, Lily deixou-se jogar nos braços dele, afundando o rosto no peito do cara que ela menos suportava no mundo. Talvez tenha sido o toque, a tentativa de ajuda, a óbvia preocupação naquela voz. Ele enrijeceu, pego desprevenido pela reação dela. 
        – Calma, vai ficar tudo bem… vai ficar tudo bem. – sussurrou contra o cabelo dela, tentando lembrar-se de como a mãe o reconfortava quando era um garotinho.
       Não era muito bom naquilo, mas não era qualquer garota ali. E mesmo que fosse, seria incapaz de deixar alguém naquele estado sem tentar ajudar. Mas vê-la assim o deixou meio apavorado, então tudo que ele conseguiu fazer foi puxá-la delicadamente contra si e ficar sussurrando que tudo ficaria bem, como se assim pudesse roubar a dor dela para si. 
       – Pro… promete? – Lily soluçou, mal pensando antes de falar. É claro que James não poderia resolver ou prometer aquilo, mas ela não ligou. 
        – Prometo, lírio. E vou bater no idiota que fez você chorar assim. – completou entredentes. 
        – Não… Não de novo… – ela engasgou. E chorou. Chorou mais. James esperou, em silêncio, mantendo-a agarrada ao seu peito. Não sabe quanto tempo passou-se até que os soluços diminuíssem e finalmente parassem. Naquela altura, os dois já estavam no chão sujo do armário; ele encostado na parede, e ela agarrada à ele. Ele olhou para o rosto dela e ofegou ao ver aquele par de olhos verdes o espiando, mesmo com o rosto ainda meio escondido ali. 
        – Obrigada. – Lily murmurou, a voz voltando ao normal, mesmo que parecesse fraquinha em comparação a voz confiante de sempre. James achou que ela levantaria e sairia correndo, mas Lily não fez isso. Pelo contrário, apenas voltou a fechar os olhos e encolheu-se mais ali, parecendo travar uma batalha interna sobre o que deveria ou não fazer a seguir. 
        – Shhh, não precisa agradecer por nada. – Ele murmurou, os dedos fortes passando levemente de cima a baixo pelos longos cabelos dela, mal encostando na tentativa de ser delicado e não assustá-la. 
        – Preciso. Me sinto bem melhor. E nem mereço que seja tão legal comigo. 
        – Pare com isso, Lil. Sabe que eu adoro socorrer damas em perigo, não sabe? – James deu um a risadinha hesitante, como se estivesse com medo de que ela corresse ao menor sinal do “velho biltre James”. Sempre o mesmo medo. 
        – Quem disse que eu estava em perigo? – ela desdenhou, forçando um riso fraco enquanto desencostava-se um pouco dele, o encarando enquanto batia as vestes, tentando tirar um pouco do pó. 
        – Ah, essa é a Evans que conheço mesmo, sempre auto-suficiente. – o garoto deu uma piscadinha, logo voltando a ficar sério. Estendeu uma das mãos para afastar uma mecha ruiva que caia sobre o rosto ela, mas na última hora desistiu. Ela percebeu e desviou o olhar. 
        – Então… Quer me contar o que aconteceu? – James disse, como se tentasse mudar de “assunto”. Lily deu de ombros, esticando as pernas e parecendo de repente muito distraída com um fio puxado da meia cinza pelos joelhos. 
        – Acho que no fundo você já sabe, Potter. Tem a ver com o seu showzinho do outro dia, lembra? Com Se… Snape. E o que ele disse. – murmurou, sem encará-lo. 
        – Hum… Sobre o que ele disse… Você sabe que eu nunca te chamaria daquilo, disse aquele dia e repito quantas vezes precisar. Nunca chamaria. – esclareceu James. 
        – Eu sei… - sussurrou Lily quase para si mesma. Por que no fundo, sabia que ele nunca teria coragem de fazer algo assim. Não com ela. O que não tornava as coisas tão melhores assim para o lado dele. 
        – E quanto ao Ranhoso… Ok, Snape - corrigiu em um tom de nojo ao ver o olhar de reprovação que Lily lhe lançou. – Desculpe, Lily, mas você sabe o que ele é. E se não é ainda, o que vai ser em breve. Sei que ele é seu amigo e que você tem um coração bom demais para realmente perceber, mas nada de bom pode vir dele agora. 
        Lily encolheu-se, puxando as pernas e as abraçando enquanto encostava o queixo nos joelhos, voltando a encarar o garoto a sua frente. 
        – Não fique chateada, não quero irritá-la ou magoá-la. Só… Me preocupo com você. Não me pergunto o motivo, pois nem eu sei direito. Mas vê-la com ele… Sabendo o que ele é, eu fico meio maluco. Se ele te fizer algum mal, nem sei o que faço. – completou, quase a contragosto. 
        – Olha… Eu não concordo com 95% das coisas que você e - principalmente - o Black fazem. Acho que deixei isso claro. Vocês são extremamente inteligentes, se ao menos usassem isso para o bem. Mas eu sei, não adianta nada eu dar um sermão, nada vai mudar. Vocês ainda vão escolher o caminho errado. Só que… Nunca tão errado quanto o que o Severo escolheu. Eu sei que não tem volta, mas dói deixar um amigo, que é quase um irmão, ir.       
        James disfarçou um sorriso ao ouvir “irmão”, mas logo se recompôs. Abriu a boca para dizer algo, mas Lily levantou-se em um pulo após conferir o relógio de pulso. 
        – Estou atrasada! Ah… – resmungou apressada, juntando os materiais do chão e conferindo o rosto inchado em um pequeno espelhinho que carregava na mochila. – Preciso ir. 
        Ia avançando para a porta, mas parou de súbito, virando para encarar James. 
        – Queria agradecer… Foi muito legal da sua parte, desculpe pelo choro, por meleca-lo com lágrimas… – Sorriu amarelo, parecendo envergonhada. – Se puder, por favor, guardar isso pra você. Não quero preocupar ninguém… 
        – Sim, tudo bem, não se preocupe. Minha boca é um túmulo. – sorriu James em resposta. 
        – Obrigada, James. Tchau! – respondeu Lily, a voz sumindo pelo corredor enquanto ela corria para algum outro lugar. 
        Deixando James sozinho no armário escuro, um pequeno sorriso triste nos lábios. 
        E um segredo para guardar.


I didn't know a thing about you #Fanfic
Categoria: Bla-bla-blá | Tags: Fanfic, Harry Potter
 Estiquei os braços acima da cabeça, me espreguiçando entre um bocejo demorado. Havia passado a noite praticamente em claro tentando finalizar a redação sobre cinquenta poções importantes criadas no último século que o professor Slughorn havia pedido. É claro, não era algo que eu faria em momentos comuns - deixar para última hora um dever de casa particularmente complicado. 

       Mas Poções sempre me remetia à Severo, pois desde… Bom, desde sempre fazíamos nossos deveres juntos, já que ele tinha muita aptidão para a matéria e havia me feito gostar da mesma também. Porém, desde o incidente…

       Eu odiava pensar naquilo. No jeito que ele havia me olhado enquanto gritava as palavras que mudariam tudo. A mistura de raiva e dor naquele olhar que eu conhecia tão bem. Bem até de mais, pois já sabia que o estava perdendo para algo que eu não seria páreo contra. Para ele e todos que o seguiam, envenenando cabeças que outrora poderiam ter sido salvas da escuridão. Mas Severo tinha uma história e era suscetível aos sussurros que o levaram dele mesmo, do garotinho que havia me mostrado a magia. Que o levaram de mim. Pois aquele Severo não era o que eu havia conhecido. E eu não conseguia mais inventar desculpas para o que ele pretendia fazer, para o que ele pretendia seguir. 

       Se não fosse isso, eu poderia perdoá-lo, poderia dizer que o entendia, que Potter e Black poderiam deixar qualquer um louco com o egocentrismo e crueldade daquelas brincadeiras que todos achavam tão engraçadas. Santo Potter, tão engraçado! Olhe só pra ele, desesperado por atenção. Mas bem, o fato era que Severo e eu estávamos há anos por um fio e aquelas palavras só haviam verbalizado tudo o que eu já sabia que eu era para ele, no fundo. Uma… uma sangue-ruim. Não melhor do que minha irmã, Petúnia. Mas então porque durante todo aquele tempo nossa amizade tinha dado tão certo?

       Era isso que se debatia em minha cabeça quando ouvi um pigarro irritado, seguido de risadinhas. 
       – Srta. Evans? Com licença, estou atrapalhando algo? – era McGonagall, parecia decididamente contrariada e aquilo fez com que eu encolhesse os ombros, não acostumada a causar aquele tipo de reação nos professores.
       – Ah! Desculpe, professora. Acho que não estou me sentindo muito bem… Não queria atrapalhar a aula… Oh, sinto muito. – murmurei a última parte toda atrapalhada, sabendo que todos os alunos me encaravam, agora parando as risadinhas. Eu parecia estar tão mal assim? 
       Voltei a abaixar a cabeça, envergonhada. 
        – Talvez seja uma boa ideia a senhorita ir até Madame Pomfrey, realmente não estou gostando da sua cor. – emendou a professora, os lábios, antes contraídos na linha fina que era a marca registrada para “sinal de encrenca” relaxando enquanto ela franzia a testa, parecendo genuinamente preocupada. – Ande, Evans, está dispensada pelo resto do dia. Avisarei aos outros professores. 
       Ela encarou a turma, como se pensasse e apontou distraída para Remus. 
       – O Sr. Lupin vai acompanhá-la. E não, Potter, você fique onde está. – acrescentou ao que Potter murmurou algo que não prestei atenção. 
       Guardei o material, tentando não fazer barulho, abri um sorriso trêmulo para a professora, em agradecimento e saí da sala, com Remus logo atrás de mim. 
       – Aqui, deixa que eu carrego a sua mochila. Pela sua cara, parece que vai desabar a qualquer instante. – disse ele, apressando-se para segurar a mochila pesada, parecendo se aproximar mais ao andar ao meu lado, provavelmente para garantir que eu não caísse ou algo assim. 

       Daquele grupinho, Remus era o que eu mais gostava. Não que eu, de alguma forma, gostasse de Potter e Black, é claro. Mas Remus era diferente, mesmo que sempre parecesse estar junto quando os outros estavam metidos em confusão. Comigo ele sempre foi gentil e atencioso, assim como com a maioria das pessoas que eu o via por perto. Poderia até dizer que éramos amigos, pois era sempre uma companhia divertida e inteligente para se ter por perto. Talvez fôssemos mais próximos se a dupla malvada não vivesse baforejando na nuca dele, dando pouco tempo para que pudessem conversar sem piadinhas de Potter. 

       – Vocês não vão se livrar de mim tão fácil assim, hein. – falei em tom brincalhão, percebendo que a voz sairá quase deprimente em comparação ao que eu havia formulado em minha cabeça. 
       Por sorte, chegamos logo a enfermaria. Madame Pomfrey não demorou dez segundos para nos avistar e vir pavoneando para o nosso lado, a expressão gentil transformando-se em preocupação quase irritada, como sempre acontecia quando ela nos via machucados ou doentes. 
       – O que houve, querida? Parece que viu um espirito agourento! Venha, deite-se aqui. – apressou-se a me ajudar a deitar em uma das camas duras da enfermaria, já medindo minha temperatura e essas coisas. – Parece um resfriado, mas não tem febre e nada assim. Tem se alimentado bem, querida? 
       Continuou fazendo um milhão de perguntas enquanto administrava uma poção e, gentilmente, me fazia engolir. 
       – Você precisa de repouso, parece que não dorme há dias. 
       Mal acabara de decretar aquilo e já virará para Remus, o expulsando. Olhei para ele com um sorriso fraco, mas sincero, murmurando um obrigada antes que ele desaparecesse pela cortina do meu “leito”, com Madame Pomfrey em seus calcanhares. 

       Consegui puxar o livro de poções e escondê-lo debaixo do edredom antes que ela levasse minha mochila para longe, o tirando sem fazer barulho de lá. Olhei para a capa meio gasta, passando a ponta dos dedos levemente pelo canto inferior da lombada, aonde se via um “FF” escrito em relevo prateado.
       Sorri, triste, lembrando-me do dia em que aquilo havia sido escrito. 

       Estávamos no terceiro ano e Severo estava muito animado com a perspectiva do quanto havíamos aprendido em tão pouco tempo naquele ano, o que o deixava com um ótimo humor. Então ele conseguiu me convencer facilmente a ficar na escola no dia da visita a Hogsmeade, afinal seus pais não haviam assinado o formulário de autorização, desleixados do jeito que eram. 
       Combinamos uma tarde de estudos nos jardins da escola, que eram o que considerávamos um território neutro entre alunos da Sonserina e Grifinória. Estávamos à sombra de um grande salgueiro, os livros espalhados ao nosso redor e Sev não poderia estar mais feliz.
       Geralmente era taciturno e sério, mas naquele dia ria e me olhava como se não existisse outro lugar em que gostaria de estar. De alguma forma, era contagiante vê-lo assim. E tão raro. 
       – O que aconteceu que está tão feliz assim hoje? Ganhou cem pontos para Sonserina? – falei “sonserina” em tom de deboche, coisa que era uma mania nossa quando falávamos da casa um do outro. 
       – Melhor do que isso, Lil. Não está sentindo essa paz? Até o cheiro do ar parece estar melhor hoje. – dizendo isso ele inclinou a cabeça para trás, como se farejasse o ar. 
       Aquilo me fez gargalhar, totalmente surpresa com aquele Severo leve, que quase me fez lembrar o menino que conheci. 
       – É sério! - repetiu-se. – Você sabe do que estou falando, sem Potter e seus seguidores para atrapalhar e ficar na volta. 
       Revirei os olhos, suspirando.
       De fato, ele tinha razão. Ultimamente Potter parecia sempre estar por perto onde Sev e eu estivéssemos e suas brincadeiras andavam cada dia mais cruéis e irritantes. De fato, a nova ideia de Potter e Black para diversão era chamar Severo de seboso e ranhoso, coisa que sempre me deixava muito contrariada.
       – Sim, o dia parece muito mais bonito hoje mesmo. – concordei, passando os olhos pelos poucos alunos – em geral calouros e segundanistas – que aproveitavam o dia de sol nos jardins. – Poderia ser sempre assim.
       Os olhos de Sev quase brilharam quando falei isso. Ele desviou o olhar, como se percebesse que reparei em sua expressão, puxando o meu livro de poções e dando uma batidinha com a varinha na pena, a encantando com algo antes de começar a escrever na lombada do livro.
       – Ei, o que está fazendo? – quase engatinhei para mais perto, tentando ver, mas ele tirou o livro do meu alcance e continuou a escrever com a pena encantada. – Deixe-me ver! – debati, quase fazendo birra enquanto tentava alcançar o livro.
       – Espere… Calma… – argumentava entre um riso frouxo, tão atípico dele. Bufei, vencida. 
       Ele logo me entregou o livro, aonde se via em sua caligrafia bonita e desenhada dois F’s prateados, quase brilhosos. Franzi a testa, sem entender.
       – “FF”? O que quer dizer? 
      – Não sei se devo te contar… – ele quase cantarolou, voltando a atenção ao pergaminho que repousava em seu colo, tentando disfarçar um sorriso. 
       – Conte-me, vai! É o meu livro, então tenho o direito… E ah, como sou curiosa, por favor, Sev. - eu sabia que estava quase fazendo beiço. Não que isso o amolecesse, geralmente. Mas dessa vez ele pareceu relaxar os ombros quando falei “Sev” e finalmente voltou a me encarar, os olhos se apertando, dessa vez de um jeito sério. 
       – Veja bem, não é nada de mais. São só as iniciais de uma poção. Felix Felicis. Você sabe, aquele que Slughorn comentou no primeiro dia letivo, lembra? Sorte líquida… 
       – Ah, é claro! Lembro sim. Mas… Não entendi porque marcar no meu livro. – falei, distraída. Agora que ele havia saciado minha curiosidade, já estava novamente entretida na redação em que trabalhava antes. 
       – Bem… – ele parecia debater-se, embaraçado, como se decidisse se deveria ou não esclarecer aquilo. – Não sei bem, acho que apenas lembrei dela e duvido que um dia você vai conseguir fazê-la e isso pode ser um, hum, lembrete ou um desafio. Para não esquecer. – ele provocou. 
       Apertei os olhos, em um misto de irritação e impaciência. Ele sempre fazia isso, me desafiava, como se fosse melhor do que eu na matéria. O que provavelmente era verdade, mas como eu era orgulhosa… Relaxei os ombros imediatamente ao ver a expressão dele. 
       Parecia dizer que ele havia dito muito menos do que pretendia dizer. 
       E assim como vento, a lembrança foi-se

       Acabei pegando no sono em menos de cinco minutos, agarrada ao velho livro de Poções.